domingo, 8 de maio de 2005

Julia, a olvidada...

Julia Varady é um soprano completo !
Se tivesse de classificá-la, em termos vocais, teria grande dificuldade em situá-la num registo mais específico, dentro do universo soprano.



Hábil na ornamentação vocal - vulgo coloratura - (Abigaille - Nabucco, de Verdi), majestosa no território dramático (Brünnhildes - Göterdämmerung, de Wagner), dócil no registo lírico puro (Arabella, Ariadne ou Condessa - Capriccio, óperas Straussianas de repertório) e exímia no universo spinto (Lady Macbeth - Macbeth -, Amelia - Un Ballo in Maschera - ou Leonora - Il Trovatore, de Verdi), La Varady, apesar de consagrada no teatros líricos, sobretudo da Alemanha (BSO), estranhamente, só muito tarde conquistou (um mais do que merecido) espaço no mercado da edição discográfica !



Romena, por nascimento, e alemã por casamento - é mulher do mais ilustre barítono alemão vivo, Fischer-Dieskau -, esta versátil e talentosa interprete encarna personagens do mundo lírico desde a década de 60, tendo-se estreado na sua terra natal.



Nos anos 70 conquistou o público alemão, iniciando uma estreita colaboração com a Ópera do Estado da Baviera (BSO), provavelmente o seu teatro de referência.

Apesar de não serem raras as interpretações que contam com a sua preciosa colaboração - cito, de cor, O Morcego, de J. Strauss, sob a direcção de Kleiber (DG), La Clemenza di Tto, dirigida por Gardiner (Archiv), A Mulher sem Sombra, de R. Strauss, com direcção de Solti, entre outras -, tanto quanto sei, apenas a editora ORFEO lhe ofereceu a possibilidade de gravar recitais líricos a solo !
Mais estranha, ainda, é a circunstância de a maioria das suas gravações datarem da década de 90, depois da cantora ter celebrado cinquenta primaveras...



Neste post, optei por divulgar a quase totalidade dos registos que gravou para a citada ORFEO, tendo apenas excluído um disco de árias de Puccini, não pela qualidade da interpretação, mas pela minha falta de afinidade com o compositor...

Além de perpetuarem uma voz única, generosa, límpida, segura e aristocrática, cujo timbre se impõe pelo aveludado, estes registos constituem verdadeiras lições de interpretação e de técnica.
Além da Salomé e da Tatiana, são poucas as passagens onde se vislumbra alguma fadiga ou declínio...

Apesar de não dispensar nenhum destes discos, se tivesse de eleger um, não hesitaria em escolher o que é consagrado a Wagner, particularmente pela cena da Imolação de
Brünnhildes, que se impõe pela nobreza da declamação, pela firmeza e pelo porte...




2 comentários:

Anónimo disse...

Uma cantora excepcional !!!
Recordo aqui a sua Imperatriz na inultrapassável Mulher sem Sombra dirigida pelo Solti. Esta interpretação, a que palavras não bastam para qualificar, ultrapassa, e comungo das palavras da "Avant-Scéne Opéra", a da grande Rysanek.
Raul

Il Dissoluto Punito disse...

A interpretação de Solti é, de facto, excepcional... Mas, para mim, melhro imperatriz do que a Studer... não há...
E se eu venero a Varady e a Rysanek!!!

Experimente a leitura de Sawallisch, com a maravilhosa (straussiana) Studer! (EMI)