quarta-feira, 28 de setembro de 2005

domingo, 25 de setembro de 2005

Cossotto e Verdi

Ainda a propósito de COSSOTTO, em jeito de reparação - na acepção psicanalítica do termo -, proponho dois registos vídeo (recentemente editados em dvd), dos anos 80, live from Arena di Verona, porventura o mais popular dos espaços operáticos do mundo, no melhor dos sentidos.

Tanto em Aïda, como n´O Trovador, Cossotto encarna dois pilares da sua gloriosa carreira, respectivamente Amneris e Azucena.

A recomendação destes dois registos prende-se, em exclusivo, com a presença da mezzo italiana, advirto!

Em boa verdade, estas duas récitas são extraídas de duas produções excessivamente datadas, com interpretes de qualidade vocal inquestionável - Chiara, Martinucci, Plowright e Zancanaro -, embora (por vezes) risíveis, senão patéticos, em termos dramáticos (a direcção de actores é mediocre, particularmente n´O Trovador...)

Em compensação, deparamos com uma Fiorenza COSSOTTO imensa, colossal, inexcedível vocalmente, dotada de uma riqueza e convicção interpretativa de antologia.

Ambos os registos constavam da minha videoteca.
O da Aïda, em VHS, está corroído - literalmente -, sobretudo na primeira cena do quarto acto, que corresponde à magna aparição de Amneris.
A primeira vez que assisti a este momento ímpar, solucei... Hoje, dez anos passados, ainda me arrepio quando revejo esta representação gloriosíssima, verdiana até às entranhas.

Pelo que conheço do mezzo verdiano - categoria que me fascina -, jamais houve um interprete do calibre de Cossotto...



sábado, 24 de setembro de 2005

Preconceitos...

Soube há dias, com espanto e estupefacção, que FIORENZA COSSOTTO - a mais mítica mezzo verdiana do pós-guerra, herdeira de Stignani e Simionato -, com 70 anos de idade, se apresenta hoje, sábado 24 de Setembro de 2005, em Estremoz, numa récita de Il Trovatore, na pele de Azucena.

Não quero acreditar...

Em Portugal - seguramente -, não há maior admirador desta colossal intérprete do que eu.
Venero as grandes encarnações verdianas de Cossotto: Amneris, Eboli, Azucena, Ulrica, etc.

Posto isto, pergunto: o que faz uma intérprete desta estirpe, com a idade que tem, interpretar uma das figuras da ópera com que mais se identifica a sua singular carreira, em Estremoz???

Preconceituosamente, não embarco nesta!

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

I LOMBARDI ALLA I CROCIATA - Teatro Comunale di Firenze

A 4 de Outubro, no quadro de uma viagem (certamente) inesquecível, estarei em Florença, onde assistirei a uma récita de I LOMBARDI ALLA I CROCIATA, de Verdi, com a grande Dimitra Theodossiou.



É de fazer inveja, não?
Depois conto os pormenores...



ps poderemos vê-la, uma vez mais, no TNSC, esta temporada, na pele de Desdemona (OTELLO, de Verdi)!

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Met´s Opening Night

Como vem sendo hábito, Setembro marca o início da temporada lírica nova-iorquina, por ventura a mais opulenta e majestosa (para o bem e para o mal)!

Há sempre motivos de grande interesse, nesta singular, mediática (e algo noveau-riche) noite de gala; Terfel e Domingo, ao que parece, estiveram soberbos (como os admiro...), tal como Graham; Graves e Gheorghiu, nem tanto...

Enfim, para os interessados, aqui há mais mais detalhes.

domingo, 18 de setembro de 2005

Opera Proibita: por fim, a minha opinião!



No auge da carreira, com 39 primaveras (e quase 20 anos de carreira, que iniciou em finais dos anos 1980), Cecilia Bartoli surge agora, discograficamente, sob o manto - diáfano? - da censura.

Conceptualmente, este trabalho distancia-se dos mais recentes, que se centravam, exclusivamente, na reabilitação da produção lírica barroca, de autores como Vivaldi, Gluck e Salieri (para seguir, cronologicamente, a ordem sob a qual foram interpretados, em termos dicográficos, por
La Bartoli).

Uma vez mais, Bartoli centra-se no seu repertório de eleição - o barroco -, que aborda, ora numa vertente lírica, ora num registo de
bravura (no sentido operático do termo, i.e., tudo subordinando à agilidade e brio da ornamentação).

A singularidade deste registo radica na edição de um conjunto de árias de ópera e de oratória - de Handel, A. Scarlatti e Caldara -, cuja expressão pública a censura eclesiástica, romana, setecentista, havia interditado.

Diga-se, em abono da verdade, que parte do repertório que integra este trabalho é conhecido do público - sobretudo no tocante a Handel -, tendo já sido abordado pela própria Cecilia Bartoli, noutros registos - Lascia la spina, cogli la rosa, de
Il Trionfo del Tempo e del Disingano, por exemplo.


A voz de Cecilia Bartoli, que sempre primou pela mestria técnica, apoiada numa talentosa respiração, apesar de pequena e pouco potente, é de uma beleza invulgar, redonda, bem matizada e infinitamente expressiva.
Trata-se de uma voz com carácter: balanceando, com igual à-vontade, entre o lírico puro e o buffo.

Agora, vamos à verdade... deste album !
Verdadeiramente, depois de uma cuidadosa audição, creio ter deparado com discretas alterações, no tocante à voz e técnica desta estrondosa cantora.

A voz está, hoje em dia - a avaliar pelo registo, que é recente (Agosto de 2004) - mais escura, tendo perdido, algo do cristalino que a caracterizava outrora...
A própria dicção se encontra algo comprometida, a fazer recordar o síndroma de Sutherland, embora num grau infinitamente menor, claro está!

A ornamentação - como diz o João Ildefonso, e bem ! - mostra-se menos espontânea, com alguns sinais de insegurança.

Quanto ao resto, o talento interpretativo, o arrojo da
bravura, a veracidade do engagement lírico, como sempre, são de primeira apanha.

Dada a rigidez da estrutura do disco - alternância, quase inalterável, entre a bravura pura e o lirismo -, considero particularmente eloquentes as árias
Come nembo che fugge col vento (que brota de entusiasmo e quase me faz dançar!) e Lascia la spina, cogli la rosa (de uma candura interminável...) que, respectivamente, ilustram os dois já citados registos.

A soberana cantora, que sai vitoriosa deste combate,
malgré tout, é dirigida por Minkowski (pela primira vez, segundo creio...), líder da formação Les Musiciens du Louvre.
O maestro francês, apesar de contar com uma brilhantíssima carreira, particularmente em territórios do barroco (Handel, Rameau, etc.), neste caso específico
, não me pareceu particularmente metódico!

Globalmente entusiasmado e inspirado, aqui e ali, denota algum descuido, nos detalhes - vide os inúmeros deslizes da flauta, por exemplo.



Enfim, este trabalho corresponde a mais uma salutar etapa de uma carreira ímpar.
Sendo uma obra da maturidade, imprescindível, situa-se um pouco aquém do extraordinário nível a que Cecilia Bartoli nos tem vindo a habituar, sobretudo desde 2000.

sábado, 17 de setembro de 2005

[Mais logo, depois de tratar do físico - no ginásio -, prometo dedicar um post a OPERA PROIBITA, recentíssimo registo de Cecila Bartoli, que tem muito que se lhe diga ;-) ]

La Signora Bartoli, ossia la Donna 50.000 EURO - II



A gravação de um album dedicado, em exclusivo, a Vivaldi marcou um ponto de viragem na carreira da intérprete.

Bartoli reduziu, de forma drástica, as apresentações operáticas - canta em Zurique e, pontualmente, em Londres -, passando o recital a constituir a espinha dorsal da sua carreira.
O valor do cachet - montante inusitado de 50.000 euros, por récita -, o mais elevado que se pratica na actualidade (em matéria de música lírica, bem-entendido!), fala por si.

O citado album, consagrado ao virtuoso violinista de Veneza - sucesso comercial, sem precedente -, deve-se, quase em absoluto, à teimosia, combatividade e orgulho de Cecilia Bartoli.

A glória e o sucesso incrementaram-lhe a capacidade reivindicativa e de afirmação.

Salvé, salvé! A editora teve de se render e cedeu, parcialmente (recordo que, por altura da selecção do repertório a incluir no registo dedicado a Gluck, La Bartoli teve de dar um murro na mesa, recusando-se a interpretar as famigeradas árias de Orfeo ed Euridice!)

De Vivaldi em diante, seguiram-se outros compositores e territórios interpretativos (injustamente olvidados - falo de Gluck e Salieri ), a que mezzo romana deu alma, reabilitando-os.
A história da música (e todos nós), estamos-lhe imensamente gratos !

São assim, os seres superiores!

(cont.)

La Signora Bartoli, ossia la Donna 50.000 EURO



A carreira da romana Bartoli é absolutamente singular.

Os seus registos, invariavelmente, são envoltos em grande mistério, primando pela originalidade e ousadia, na selecção do repertório, e arrojo, nas interpretações.

Iniciou-se em Rossini e Mozart (mais discretamente em Haydn), brilhando no registo lírico-coloratura.

Na época - final dos anos 1980, início da década de 1990 -, com uma reduzida capacidade reivindicativa, interpretava o que lhe propunham.

Graciosamente, vestiu a pele das heroínas rossinianas: Angelina, Rosina e, mais tarde, já Diva, Fiorilla (d´O Turco em Itália); nunca percebi como resistiu à mais fabulosa de todas elas... Isabella, d´A Italiana em Argel!


Em Mozart, começou por brilhar no registo puramente lírico: Cecilio (Lucio Silla, sob a direcção de Harnoncourt) e Sesto (A Clemência de Tito, com Hogwood); era a fase dos papeis travestidos. Seguiram-se as primeiras interpretações mozartianas, femininas - Dorabella e Despina -, figuras destacadas mas, claramente, de segunda linha.

O final do século coincidiu com a expressão absoluta da glória da cantora.

Literalmente, borrifou-se para os limites das tessituras.

Lançou-se em Mozart, sem pudor algum.
Zurique assistiu, estarrecida, à D. Elvira, que cantou de muletas (havia partido um tornozelo e, estoicamente, recusou-se a cancelar); é obra !

Encarnou Susanna, no Met, ladeada por Fleming e Terfel, num conjunto de récitas absolutamente históricas e inesquecíveis - ainda se falou na gravação de um integral d´As Bodas de Figaro, com os mesmo intérpretes; hélas, tal não passou de um projecto.


Seguiu-se, ici et là, a Fiordiligi, do Così...
Papel de tessitura intermédia, onde os graves são imprescindíveis, La Bartoli transcendeu-se! Inigualável!
É pena não haver um integral, em audio, desta fabulosa encarnação - contentemo-nos com excertos da mesma ópera, e de outras, reunidos numa obra incontornável, imprescindível, em absoluto, da editora DECCA (Mozart Portraits - 443 452-2).


(cont.)

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Um Così renovado, ou reabilitado ?

Por altura da estreia, no festival de Aix, da nova produção de Così Fan Tutte, que contou com a assinatura do inigualável Patrice Chéreau, na encenação, as críticas negativas não tardaram em emergir.

Neste artigo (in Le Monde), como se diz - parafraseando Chéreau ? -, depois de concluído o trabalho da produção, forçosamente, antes da première, a obra brilhará, apenas e só, se o maestro o permitir.

A reprise da produção de Aix, desta feita, em Paris (Palais Garnier), parece dar razão ao encenador:

«Le Cosi "de" Chéreau n'était pas révolutionnaire en juillet. Il ne l'est pas devenu. Il a pris, au contraire, le masque souriant de l'éternelle jeunesse, ce privilège des classiques

Péché capital

Et là, je m´excuse, je pars vite!
Au lit - pour une fois -, au lieu de ma femme, je trouverai la Bartoli, dans la peau de l´interdiction d´autrefois, aujourd´hui chantée à pleine voix!
Que celle-là oublie cette sorte de trahison, si rare, si désirée...

Solti, Mozart & Strauss, a propósito da perversão...

O magistral maestro húngaro Georg Solti, de sua graça, considerava que o Così mozartiano tinha um equivalente, em Richard Strauss: Salome ! Est-ce possible!?

Discordando desta conjectura, de forma peremptória, nela reflecti, longamente.

Desejos inconfessáveis...

...por instantes, e apenas em pensamento - dimensão onde tudo é permitido ! -, privar com uma das mais sensuais interpretações da história da ópera: a Salomé de La Studer...

À inimaginável sensualidade desta encarnação, alia-se uma lascívia inconcebível, de onde resulta um despudor indescritível...

Indubitavelmente, Cheryl Studer compõe uma Salomé de antologia, inebriante, arrebatadora, fascinante na sedução, monstruosa na perversão.

Ahhhh ! Tanz für mich, Salome...


segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Narcisam-me, Narciso !

Em clima de desmesurada narcisação, agradeço - e retribuo - os elogios dirigidos a este blog, pela digna e elevada promotora do notável Digitalis.

Também este espaço, Caríssima, se verga diante da fluência artística do V. blog, que descobri através de uma dos mais notáveis ilhas com que conta a blogosfera, materialização definitiva do espaço transitivo, paradigma da criatividade, et ainsi de suite...

By the way, também o editor do Opera e demais interesses se movimenta nas teias do universo psi, por força da sua formação e, par conséquent, por dever de ofício !

sábado, 10 de setembro de 2005

Così per Tutte e Tutti !

Para ti, AA, que veneras o verbo como eu admiro a música, aqui ficam as demais referências históricas do Così (balanceio, com insistência, qual obsessivo ruminante, entre Tutte e Tutti...).


(EMI - Karajan´55)


(EMI - Böhm´63)

Duas leituras contemporâneas, alternativas e superlativas, - embora bem distintas -, com um denominador comum, em termos interpretativos ! À toi d´y arriver, seul.

Recomendo que as escutes na companhia dos soberbos chocolates vienenses. Bom proveito !

Um abraço de saudades

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Presto, presto...



La Bartoli, monstruosa, desmesurada, imensa, disciplinada, versatilíssima... perfeita !
Desta feita, dá voz, alma e corpo a árias de ópera barroca que a censura da época havia suprimido.

Disse-me outro passarinho que, muito em breve - leia-se, a 12 de Setembro -, esta preciosidade (sicuramente!) poderá ser adquirida!!!

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

A propósito de Tristan und Isolde, segundo PAPPANO - I - Considerações musicais: o Eterno-retorno

Cinquenta e dois anos volvidos sobre a mítica leitura de Furtwängler, de Tristan und Isolde - gravação que inaugurou um ciclo -, a EMI re-interpreta a mesma ópera, sob a batuta de Pappano. Consta que o ciclo se completou.

Ansiei longos meses pela publicação desta interpretação. Temo que o primeiro impacto da audição da mesma não seja justo...


A presente leitura, numa palavra, é de uma heterogeneidade sem limites ! Capaz do melhor (Stemme) e do pior (Fujimura), Pappano hesita.

Desde logo, a direcção de Antonio Pappano - que não é um wagneriano ! - impressiona, pelo rigor; contudo, excessivamente escolar - metódica e cuidada -, a mesma peca pela falta de poesia.

Não é possível abordar esta obra sem uma clara convicção melancólica, pois a matriz da mesma nada mais é do que um infinito desdobramento depressivo, pontuado por momentos de volúpia, sensualidade e beleza, incomensuráveis.

Wagner fala-mos de uma melancolia metafísica, que transcende a natureza humana, que nos remete para lá do real ! Pappano, que parece ter seguido a partitura, escrupulosamente, mostra-se incapaz de dela retirar afectos infinitamente depressivos...
Nesta interpretação, a transcendência é uma miragem, longínqua, longínqua...


Em matéria de distribuição, as expectativas eram altas...

Stemme é uma Isolda plena, absoluta.
Oleada por interpretações recentes, ovacionadas, tanto em Bayreuth, como em Glyndebourne, não desilude o mais exigente dos melómanos.
O papel está invejavelmente assimilado.
A composição que Ninna Stemme nos oferece é, contudo, algo convencional.
Considero-a particularmente expressiva, sobretudo na nobreza, no porte altaneiro, no orgulho e na dor da perda - onde é exímia !
O fraseado é de uma extracção inusitada, um regalo ! O timbre é belíssimo, embora não tão encorpado como imaginava... Quanto ao vibrato... não é defeito ! É feitio ! Assenta-lhe que nem uma luva !
Espantosamente - qual Helga Dernesch, qual Waltraud Meier... -, a tessitura apresenta afinidades com o registo mezzo !

Domingo, nesta interpretação, segue a sua cruzada contra a idade.
Um mero detalhe, gravar Tristão aos 65 anos - e não 61, que diz ter ! -, dado que outros realizaram, com sucesso, semelhante façanha - vide Windgassen, na soberba leitura de Böhme, igualmente entradote na idade, por altura da gravação, realizada ao vivo, em Bayreuth.
Além de cantar com a mestria que se lhe conhece - apesar dos excesso, que não são poucos... -, Plácido Domingo tem um invulgar talento dramático, particularmente em terrenos wagnerianos - Parsifal, Lohengrin e Tannhäuser.

O Tristão que Domingo compõe, investe, sobretudo, na exaltação, no vigor e na pujança, subestimando a dimensão imensamente trágica da personagem, hélas ! Espantar-me-ia que assim não fosse, dadas as evidentes características hipomaníacas do interprete !
Vocalmente, é estonteante, por vezes um pouco excessivo e arrebatador.


Da restante distribuição, destacaria Fujimura - que compõe uma Brangäne deplorável, tanto vocal, como dramaticamente - e Bär, quiçá, o mais tocante dos Kurwenal da discografia !

Pape - venerável mozartiano -, como Rei Marke, desilude, pela inexpressividade. O timbre é heróico e viril, em demasia... Falta-lhe a sensibilidade à dor, que lhe escapa, em absoluto. Recorde-se que a personagem que interpreta vive submersa num lúgubre sofrimento !


Enfim, uma interpretação a reter, pela mestria de três protagonistas, rica em virtudes vocais, embora parca na difusão do universo wagneriano mais ortodoxo.

domingo, 4 de setembro de 2005

A propósito de Tristan und Isolde, segundo PAPPANO - I - Considerações de um psi

Tristan und Isolde é uma obra-maior.

Tristão e Isolda, à semelhança da grande maioria das composições operáticas de Wagner, foi escrita e orquestrada pelo próprio compositor, num exercício expressivo de omnipotência e autarcia, tão caro e familiar à personalidade narcísica do criador de Bayreuth.

A obra - maioríssima, repito - é longa e sensual; tremenda, na explicitação de um erotismo que transcende a carnalidade, exalta a grandiosidade do amor, evoca a transcendência, impele à redenção pela morte, que surge como a última das escapatória da humanidade.

Dir-se-ia que os eixos da problemática romântica - perda, pessimismo, inexorabilidade do destino e morte, não raras vezes camuflados, ora pela mania, no sentido mais psicopatológico do termo (defesa contra a depressão), ora por operações defensivas mais narcísicas - se materializam, despudoradamente, na produção operática de Richard Wagner.

Em Tristão e Isolda, a ansiedade depressiva é, com efeito, magnânime.
A própria simbólica se lhe submete: a noite, a predominância do negro, as trevas e demais símbolos surgem como representações de uma vivência condenada, pecaminosa, sombria, triste e errante.

Tristão cresce sob o signo da culpailidade depressiva: responsável pela morte da mãe, que por ele morre, carrega o fardo de uma existência solitária, infinitamente triste; Isolda, nobre na linhagem, modos e carácter, está condenada ao infortúnio: perde o primeiro amor, a ele se ligando sob a forma de um luto enquistado, resigna-se a um segundo casamento, sem amor.


Aos amantes, une-os a perda, no infortúnio das trevas, da noite, único espaço possível de existência...



(cont.)