quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Met 2007 - 2008: Noite de Estreia - As Fotos

O generoso The New York Times disponibiliza (aqui) algumas fotografias da estreia da nova produção de Lucia di Lammermoor, no Met, que marcou a abertura da presente temporada lírica na maior e mais suculenta das maçãs.













terça-feira, 25 de setembro de 2007

Met 2007 - 2008: Noite de Estreia

A segunda temporada da Era Gelb teve início segunda-feira, dia 24, com a mais célebre das Lucias da opera, a de Donizetti.

Finalmente, coube à grande Dessay uma abertura de temporada, na mítica sala do Lincoln Center.

Com alguns incidentes, a noite foi gloriosa, particularmente para a soprano francesa.


(Natalie Dessay, em Lucia di Lammermoor, Ópera da Bastilha, Outubro de 2006)

E, por favor, parem com a cretina polémica do final de cena de loucura sem cadenza!

É bonita, sim senhor, um pouco kitsch até, e fica quase sempre bem. Mas, posto que Donizetti a não criou... não me choca que Natalie Dessay a recuse! Aliás, a senhora sempre fez desta recusa um cavalo de batalha!

É assim - e é se querem! Pronto.


segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Callas'99



A inveja, por vezes, é desencadeada por valores irrisórios.
Nunca imaginei chegar tão baixo, confesso...

A integral das gravações em estúdio de La Divina, por escassos €99! Ao que isto chegou!

E logo comigo, que colecciono as gravações da Senhora desde a adolescência, sabe Deus com que sacrifício...

Der Ring des Wagner



A saga dos wagner prossegue.
Katharina, num golpe certeiro, conquista troféus, que tornam a sua ambição pelo poder cada vez mais voraz.

Depois da aliança com o grande (muito, muito grande e talentoso) Thielemann, a almejada direcção artística do Festival de Bayreuth, paulatinamente, vai deixando de ser uma simples miragem.

«Katharina Wagner, who made her directorial debut at Bayreuth this summer to mixed reviews, is teaming up with Christian Thielemann, the musical director of the Munich Philharmonic and a respected Wagner conductor.

In a joint interview in the weekend edition of the Frankfurter Allgemeine Ms Wagner, 29, and Mr Thielemann, 48, stressed that their relative youth and passion for the festival stood them in good stead to take over the reins from Ms Wagner's father, Wolfgang, 88, whose health is ailing.
»

Aqui para nós, fiel leitor, Katharina parece ter-se inspirado em Ortrud, porventura uma das mais abjectas figuras do universo operático de Richard Wagner.


(cena de Lohengrin, com Solveig Kringelborn, na pele de Elsa, e Waltraud Meier, como Ortrud, docinha e terna, como atesta o facies)

Um pouco mais adiante, brotam as boas intenções que, como sabemos, abundam no inferno...

«Ms Wagner said that she and Thielemann planned to open a festival academy for conductors, composers, singers and directors in order to improve the standards of Bayreuth.»

Tratando-se de um combate marcado e movido pela urdidura, a escolha não parece insensata...

Tontos, tontos, são os bem formados!

Hampson em Paris



Há muito que considero Thomas Hampson um dos mais dignos representantes da escola de lied.


Hampson é um digníssimo barítono, de voz elegante, aveludada e aristocrata. Nutre pela língua de Goethe um amor e devoção assinaláveis. Posto isto, era de prever o sucesso do seu recital, em Paris, no Théâtre des Champs-Élysées.

Assim reza um excerto da crónica:

«Le récital de lieder est à l'opéra ce que le quatuor à cordes est à la symphonie : une mise à nu. Le chanteur ne peut se réfugier dans l'habit du personnage : les mots et les sons lui suffisent pour s'emparer de nous et nous faire vivre une histoire en trois minutes. Fischer-Dieskau en fut le maître absolu, mais Thomas Hampson vient de montrer au Théâtre des Champs-Élysées qu'il n'y avait aucune raison d'être nostalgique. Sa prestance qui capte le regard et l'écoute, sa diction claire mais pas exagérée, son sens tragique, son intelligence musicale et poétique, tout cela ferait déjà de lui un immense artiste, s'il n'y avait en plus sa capacité à être habité par ce qu'il chante.»

domingo, 23 de setembro de 2007

Maria Cecilia Malibran Bartoli

Este trabalho pretende ser uma homenagem a Maria Malibran, uma das mais célebres cantoras líricas da história.


(Maria Malibran)

Maria Malibran (1808-1836), a par de Giuditta Pasta e Isabel Colbran (entre inúmeras outras), foi uma célebre prima donna do romantismo. Celebrizou-se ao substituir a Pasta, em Junho de 1825, em Londres, na pele de Rosina, tendo estreado a lírica da dupla Mozart – Da Ponte, na América, interpretando Zerlina, de Don Giovanni.

Madame Malibran é frequentemente descrita sob o signo da emancipação: mulher pouco dada ao respeito pela autoridade e convenções, evidenciava a sua manifesta aversão a limites e constrangimentos de toda a espécie. Admira-me que as feministas não tenham feito da figura desta diva um dos seus ícones... se calhar, a senhora não queimou soutiens...

Voz de tessitura inusitada, de uma extensão extraordinária, a senhora Malibran seria, nos nossos dias, um mezzo-soprano. À época, é sabido, esta classificação era efémera.

Através deste trabalho, La Bartoli revisita alguns dos triunfos da Malibran, interpretando trechos e árias de ópera romântica, de pendor marcadamente belcantista. Parte destes trechos corresponde a composições escritas para a própria Maria Malibran.


(DECCA 475 9077)

Em duas palavras, diria que este indispensável registo de Cecilia Bartoli convence e triunfa.

Desde logo, à semelhança das gravações da mezzo romana do início do século, opta-se pelo risco, interpretando-se trechos inéditos, ao invés de repisar territórios ultra-explorados.

A voz mantém as qualidades de sempre, apesar de se encontrar mais escura, menos discreta nas mudanças de registo e mais parca em espontaneidade nos pianissimi. A coloratura permanece inabalável, bem afim com a pirotecnia. A articulação prossegue imaculada, com um clareza espantosa – um francês admirável e um castelhano (quase) nativo!

Quanto aos dotes expressivos, como sempre, encontram-se no ponto desejável.

Em matéria de interpretação, Bartoli revela prudência, investindo nos dois territórios que melhor se adequam ao seu carácter: o lirismo e o buffo - leggero, ambos envoltos em momentos de bravura absolutamente triunfais.

Pessoalmente, destacaria Yo que soy contrabandista, da autoria de Manuel Garcia (o pai de Maria Malibran), pela garra e ousadia gitana, a ária final e cabaletta de La Sonnambula, de Bellini, cuja ornamentação admiravelmente modelar destrona a Stupenda Sutherland (desde a primeira interpretação de Joan Sutherland, de inícios dos anos 1960, desta mesma ópera, jamais testemunhei semelhante virtuosismo!).

A estes momentos de gioia, dois outros se juntam, particularmente pela qualidade da bravura: Air à la tirolienne avec variations, de J. N. Hummel, e ainda Rataplan, da autoria da própria Malibran.

No território das decepções, hélas, Norma, a derradeira ária do álbum, assume a dianteira: demasiadamente prudente, sem correr o mínimo risco, peca sobretudo pela falta de legato e pelo lirismo excessivo, sem a mais leve sombra de espessura dramática.

Em jeito de síntese, diria tratar-se de um notável trabalho, que brilha pela qualidade técnica, em primeiríssima mão. Trata-se de um retorno de Cecília Bartoli ao Romantismo - depois de uma longa ausência -, em instrumentos da época, no auge de uma carreira que revela indesmentíveis afinidades com as da homenageada.



Aliás, aqui para nós, caro e paciente leitor, por detrás desta notável homenagem, espreita um desejo latente de identificação!

E perché non?

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Maria Bartoli



Por estas bandas, goza-se, sem limites ;-)
Oportunamente, explicarei por quê (será necessário?)!

Liceo 2007/2008

Por ocasião da nova temporada do Liceo de Barcelona, Joan Matabosch, o actual director artístico da casa, concede uma entrevista ao EL PAIS. Algumas tiradas são dispensáveis - "ópera para todos e não para as elites", concepção ultra déjà vue, a par de "ópera como obra de arte e não apenas ocasião de entretenimento (???!!!)" ... -, outras interessantes, nomeadamente as que falam de cifras, como esta:

«(...) la nueva temporada lírica que, con un presupuesto de 57 millones de euros y una oferta total de 4.601.788 localidades, se inaugura el próximo martes con la ópera Andrea Chénier, de Umberto Giordano. De los 10 montajes escénicos programados, ocho tienen al Liceo como productor, una cifra inusitada hasta ahora.»

Entre e , as diferenças saltam à vista de todos...

Não querendo ser, nem derrotista, muito menos preconceituoso, arrisco vislumbrar uma trágica temporada para o nosso Teatro Nacional de São Carlos, cuja programação se afirma por uma inigualável mediocridade.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

30 Anos...



... e 3 dias volvidos sobre o trágico desaparecimento da maior lenda lírica do século XX, eis o meu best of Maria CALLAS. Trata-se de uma lista (não exaustiva) extensa e diversificada, prova da amplitude e diversidade de recursos vocais, cénicos, interpretativos e dramáticos da última grande grega.

Obviamente, o lapso deste blogger – porventura um dos maiores cultores do génio e mestria de La Divina -, que consistiu no esquecimento da dolorosa data do desaparecimento da dita cuja, tem a sua explicação: por estas bandas, a Callas permanece entre os vivos, como bem atestam os seus 16 registos indispensáveis!

Acresce à justificação a circunstância de Il Dissoluto Punito nutrir pouca simpatia por efemérides deste calibre. Dito isto, por altura do centenário do nascimento de Maria Callas, se este espaço resistir, seguramente serei um dos mais entusiastas poster´s.

Quanto à citada lista, organizei-a de acordo com dois critérios: (1) Os Triunfos – Belcanto (Lucia di Lammermoor, Anna Bolena, Norma, La Sonnambula, Il Barbiere di Siviglia), Verdi (La Traviata) e Verismo (Tosca); (2) as interpretações heterodoxas do romantismo italiano – Verdi (Un Ballo in Maschera, Macbeth, Il Trovatore, Rigoletto), Ponchielli (La Gioconda) e Cherubini (Medea).

(1)






(2)






Nota: a negrito (da minha responsabilidade) destacam-se as óperas que mais celebrizaram a intérprete

Cecilia Malibran


(DECCA 475 9082 8)

O álbum de La Bartoli consagrado à grande Malibran promete ser o acontecimento discográfico do ano lírico, sem surpresa.

A Bartoli, artística, vocal e discograficamente (por que não dizê-lo?!), é de uma qualidade e seriedade sem paralelo, na actualidade. Bate o pé às majors, como ninguém, recusando o folclore que procuram impor-lhe. É de Mulher!

«Cecilia Bartoli, c'est aussi une de ses qualités, a le sens du spectacle et un don pour faire partager ses passions. Pratiquement tous les deux ans, elle invite, pour notre grand plaisir, à un nouveau voyage sur des chemins ignorés ou d'autres que l'on croyait connus, mais qu'elle éclaire d'une nouvelle lumière. Après Vivaldi, Gluck, Salieri, dont on ne peut plus ignorer de vive voix pourquoi il n'est plus joué, elle fait aujourd'hui revivre la Malibran après avoir, il y a deux ans, illustré la période où l'opéra était frappé d'interdit par les autorités vaticanes.»

Depois de dedicar vários registos à reabilitação de repertório caído no esquecimento – Vivaldi, Gluck, Salieri, entre outros -, desta feita, Cacilia Bartoli envereda pela expressão de uma escola de canto, que La Malibran criou.
Passou da criação à expressão.

Em breve, ver-se-á...

Por enquanto, contentemo-nos com a cobertura da imprensa ao acontecimento, que se avizinha a passos largos!

«Cela fait plus de quinze ans que je m'intéresse au personnage en collectionnant des objets, des partitions. J'ai eu aussi envie de montrer et de partager tout ce qui m'a aidé à comprendre la chanteuse et la femme. C'est en voyant, devant un théâtre où je chantais, un camion technique d'enregistrement que j'ai eu l'idée du musée mobile qui accompagnera ma tournée dans les villes. Londres, Paris... où la Malibran a chanté, même en Espagne où, pourtant, elle ne s'est jamais produite bien qu'elle y fût née.»

O que mais me impressiona nesta entrevista é a insistência de Bartoli na faceta emancipada de Maria Malibran... O que estará a romana a preparar?

A talho de foice, para abrir o apetite, aqui fica uma opinião critica (francesa) deste registo:

«Le CD n'est pas un vulgaire pot-pourri aguicheur pour le public du bel canto mais une véritable relecture de la musique de cette époque. Il comprend huit enregistrements qui sont des premières mondiales et aussi des « tubes » comme le célèbre « Casta Diva » de La Norma dans une lecture philologique grâce aux instruments d'époque de l'orchestre de La Scintilla dirigé par Adam Fischer. Une interprétation qui étonnera tant elle diffère de celle de la Callas par la ferveur d'une prière si loin de la déclamation. Une autre approche indispensable à entendre.»



Cecilia Bartoli, ossia Maria Malibran

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Le Temps l'horloge, por Henri Dutilleux



Apesar dos inúmeros contratempos, a 6 de Setembro, em Matsumoto, no Festival Saito Kinen, teve lugar a estreia mundial de Le Temps l'horloge, peça para soprano e orquestra da autoria Henri Dutilleux, cuja interpretação esteve a cargo de Seiji Osawa e Renée Fleming.

Le Temps l'horloge surprendra ceux qui attendent du compositeur un chef-d'oeuvre testamentaire, façon Neuvième symphonie de Mahler. D'abord, Dutilleux va fort bien et n'a pas dit son dernier mot (on murmure qu'il songerait à un deuxième quatuor à cordes). Ensuite, si elle n'est pas "testamentaire", Le Temps l'horloge est un chef-d'oeuvre - discret, grave et léger, à l'image de son auteur. Ces trois brèves mélodies ont les qualités de l'art du concentré dont témoignent tant de manifestations de la culture nippone. Et pourtant, elles sont on ne peut plus françaises dans leur ton, leur raffinement orchestral.»

domingo, 9 de setembro de 2007

(REAL) Pavarotti and Friends



Este registo é uma gala... lírica... americana.

Dito isto, caro e (ora) advertido leitor, ainda que não aprecie o estilo light & lyric – pop (como eu!), recomendo vivamente o presente artigo, pelo brilho dos intérpretes, em inícios dos anos 1980.

À excepção de algumas fragilidades da Senhora Sutherland – em final de careira, by the time, ainda que gloriosa -, a qualidade dos intérpretes é indiscutível: Horne hercúlea, Pavarotti luminoso e Sutherland (ainda) majestosa.

Seguramente, no género, é do melhor que se produziu, antes da vaga assassina da década que se seguiu, que teimou em contrariar a essência da lírica, banalizando-a.

E surgiu Andrea Bocelli, Charlotte Church, Emma Shapplin e quejandos...

E mais não digo, pois o momento é de contenção.

Pavarotti Forever (!?)

A gulosa DECCA, logo após o trágico desaparecimento de Luciano Pavarotti, apressou-se a criar um site de “homenagem” ao grande tenor.

Esta bem de ver que a diligência radica em pilim (carcanhóis, na vulgata).

Em todo o caso, o dito site contém informação relevante, nomeadamente relativa à discografia e biografia do intérprete.

Afinal de contas, espreitar não é crime (leia-se, embarcar na onda!)


sábado, 8 de setembro de 2007

Pavarotti (1935-2007)

Além das intermináveis lágrimas que o desaparecimento de Pavarotti me fez verter, pouco me resta acrescentar ao extenso rol de homenagens de que o mais popular tenor da segunda metade do século XX tem sido alvo.

De forma singela, ao meu jeito, proponho uma lista dos seus incontornáveis registos operáticos.

Pavarotti foi, indubitavelmente, um homem de ópera. Embora pouco hábil cenicamente, a sua voz profundamente lírica, cheia de cor e rica em matizes, ampla, cristalina e absolutamente solar, plenamente radiosa, tornou-o no mais célebre intérprete lírico do final do século.

Como poucos, na ópera, notabilizou-se em figuras como Edgardo (Lucia di Lammermoor), Mario Cavaradossi (Tosca), Duque (Rigoletto), Calaf (Turandot), Tonio (La Fille du Régiment), Elvino (La Sonnambula), Rodolfo (La Bohème), Fernando (La Favorita) e Nemorino (L’Elisir d’Amore).










Um pouco além dos seus meios artísticos – a não confundir com as imensas potencialidades vocais -, o tenor legou para a posteridade um maravilhoso Otello, um divino Arnoldo (Guglielmo Tell), a par de um brilhante Andrea Chénier e de um elegantíssimo Riccardo (Un Ballo in Maschera).




Pessoalmente, em matéria de tenores líricos, considero a beleza do timbre de Luciano Pavarotti absolutamente singular, inigualável! Talvez Di Stefano se aproximasse, embora lhe faltasse amplitude. Kraus, o rei da classe, poderia ladeá-lo, apesar da insuficiente luminosidade. Bjoerling era brilhante, mas menos pueril.

RIP