sábado, 22 de novembro de 2008

L'Autre Fille du Régiment


(VIRGIN Classics 50999 519002 9 8)

Dessay – cujo timbre é uma lenda, de uma elegância e graciosidade memoráveis – revela um discreto desconforto na abordagem vocal desta Marie, surpreendentemente! Em boa verdade, se algo de mítico há na interpretação de Natalie Dessay, esse algo decorre de uma comicidade inusitada, que se materializa numa personagem Maria-rapaz, com um toque gingão e vulgar, absolutamente desconcertantes.

Flórez, de igual modo, exibe uma agilidade mais contida do que por ocasião desta prestação. Palmer é notável, particularmente na substância dramática que confere à Marquesa, apresentando-nos Corbelli o mais completo e convincente Sulpice de que há memória.

No fosso, Campanella – um dos mais reputados maestros belcantistas – dirige uma orquestra rotineira, ainda que disciplinada, sem brilho particular.

As comparações são inevitáveis: à excepção da prestação teatral de Dessay - pela vertente cómica, sublinho - e mais alguns desempenhos cénicos, no balanço final, a La Fille du Régiment da DECCA sobressai.

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(3,5/5)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Un'altra?

Mais uma La Traviata?

Nunca fui grande adepto de Renata Scotto. Pese embora os indesmentíveis dotes interpretativos e notável expressividade da senhora, em matéria de agudos, a coisa irrita-me os tímpanos!

Já estou preparado para as avalanches de incondicionais Scottistas, que me apuparão!
Não, Senhores, a dita cuja não é das minhas eleitas!!!

Quanto a esta Violeta, nada digo. Mas antevejo uma grande prestação - mais que não seja, cénica!

Depois... há Bruscantini e Carreras (antes, muito antes da investida nas "feiras")



quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Reticências...

... reticências e mais reticências...



Qualquer destes três registos - escutados, é certo, à vole d'oiseau - suscitou neste escriba sérias reservas quanto à qualidade dos mesmos... Talvez esteja a ser injusto com Didonato, quanto às demais senhoras...

Dir-me-á o leitor mais prudente que não se fazem avaliações com base em impressões, não sem razão. A verdade é que os breves trechos que escutei evitaram que adquirisse os citados artigos, quiçá erradamente!

Ver-se-á...

domingo, 16 de novembro de 2008

Kasarova vs DiDonato

Vasselina Kasarova e Joyce Didinato, duas das mais distintas mezzo’s da actualidade, confrontam-se em Handel.



Eis as opiniões de Tim Ashley (Guardian):

«Her programme focuses on arias written for Giovanni Carestini, one of Handel's favourite castratos. It gives her the finer music, the greater opportunities for subtle dramatic display, and allows her both to do what she does best and to avoid the mannerisms that have marred her recent performances. (…) There's a preponderance of slow arias, which were Carestini's forte, but this is singing of great nobility and expressive power, accompanied by instrumental work of exceptional dignity from Il Complesso Barocco. Deeply
touching and highly recommended.» (Sento Brillar, Kasarova, RCA)

«The problems derive from the fact that one Handelian tantrum sounds very much like another. Anyone approaching DiDonato for the first time by way of this disc would take away the impression that her principal abilities consist in hurling coloratura around like weaponry and snarling a lot. We know her to be capable of more than that, though on the rare occasions when she sings something slow and reflective, the results are curiously bland. Ariodante's Scherza Infida, for instance, though beautiful, is short on grief and pain.» (Furore, Didonato, Virgin Classics)

A avaliar pelas impressões do citado senhor, Kasarova leva a melhor sobre Didonato!

Ou muito me engano ou estes dois registos jamais serão comercializados neste jardim à beira mar plantado, desafortunadamente periférico (pelo menos musicalmente).

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A (mera) Curiosidade ossia La Sonolenta


(L'OISEAU-LYRE 478 1084)

Segundo o editor, dois argumentos justificam esta singular La Sonnambula: a circunstância de a mesma seguir a partitura original - que pressupunha um papel titular atribuído a um mezzo-soprano (Pasta e Malibran eram as Amina de eleição de Bellini) - e o facto de a dita interpretação ser tocada com recurso a instrumentos da época.

Por outras palavras, esta interpretação reivindica um estatuto singular no panorama discográfico e interpretativo, decorrente da sua fidelidade à composição de Bellini.

A verdade verdadeira, caro e fiel leitor, é que sempre me habituei à Amina soprano, ornamentada, ágil, ousada, certeira, tecnicamente segura, naïve, profundamente feminina e, claro está, sobre-agudíssima. Aliás, nem só de spinto vive Amina, como bem saberá o leitor! Os sopranos ligeiros evitam este papel, sobretudo, pela vertente lírica do mesmo: a título de exemplo, a cena do sonambulismo ultrapassa o mero domínio da coloratura, como bem se reconhecerá, convocando um desempenho puramente lírico.

A história – discográfica e performativa - tem revelado grandes, grandes intérpretes do papel titular, todas elas sopranos lírico-spinto: Callas, Sutherland, Moffo, Scotto Swenson e Dessay... Neste contexto, convenhamos, a abordagem mezzo do papel titular faz antever reacções pouco entusiásticas, ainda que o mezzo seja La Bartoli!

Pois bem, surpreendentemente - muito além das descritas especificidades musicais (bem desinteressantes...) - a maior fragilidade desta La Sonnambula decorre da sua inconsistência teatral e dramática. Bartoli socorre-se da pirotecnia, falhando redondamente na feminilidade da personagem que interpreta. A sua Amina será uma acrobata, indubitavelmente, mas pouco subtil, parcamente ingénua, insuficientemente dócil e – sobretudo – nada donzela. Flórez, pior um pouco: o cristalino sobreagudo resume a sua prestação, que redunda num Elvino apatetado e tonto. Salva-nos a honra do convento o extraordinário D’Arcangelo, Conde de inusitado brilho: fraseado aristocrata, articulação refinadíssima, elevação de carácter e, last but not least, a mais bela voz de baixo do mundo contemporâneo, rien que ça!

Pergunto-me se o público mais plebeu - onde me situo, naturalmente -, pouco sensível a argumentos académicos, que enaltecem o rigor histórico e a fidelidade às origens, valoriza a especificidade desta leitura?! Não creio...

Em jeito de balanço, creio que esta interpretação se afirma, em exclusivo, pela originalidade, constiuíndo, apenas, uma mera curiosidade.

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(3/5)

domingo, 2 de novembro de 2008

O Último Imperador


(CLASSIC D'OR ALFREDO KRAUS - ROYAL CONCERTS III - Teatro Real - Madrid 1984
Massenet, Paisiello, Gounod, Donizetti, Rossini, Chopin, Verdi, Barrera y Calleja, Roig e Quintero)

Um Kraus igual a si próprio: eterno, estilisticamente irrepreensível, de uma elegância aristocrática e senhor de uma técnica quase infalível – agudo certeiro e firme, de uma ousadia impressionante.

O problema é o reverso da medalha… a pose, o cabelo armado, a postura rígida, o francês de pacotilha e a vacuidade da interpretação (pela obsessão técnica).

Ainda assim, o crepúsculo só se anuncia pelo semblante carregado.

Neste registo, tudo o mais – além da grande Senhor – é datado e cheira a bafio, a começar pelo horrendo revestimento do palco do Teatro Real.



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(3,5/5)

A Decadência estética

No último quartel do século XX, o papel titular de Salome (Richard Strauss) esteve a cargo de seis grandes intérpretes: Rysanek, Behrens, Caballé, Stratas, Studer e Malfitano.


(NVC ARTS 9031-73827-2)

Comercialmente, Malfitano é a única a ter perpetuado a sua singular interpretação em registo vídeo, em duas ocasiões. O presente dvd corresponde à sua primeira Salome, captada ao vivo, em 1990, em Berlim.

A encenação desta produção roça a mediocridade e mau gosto, maugrado o realismo e qualidade de alguns elementos (nomeadamente o guarda-roupa). Os cenários indignos – porventura toleráveis num teatro de província – dão conta de uma estética cega e trôpega. A direcção de actores é amadora – Simon Estes esbraceja de modo confrangedor e estéril e Malfitano oscila entre o patético (na acepção mais pejorativa da coisa) e o eloquente (cena final), teatralmente falando.

Malfitano impõe-se pela solidez vocal – ainda aquém da estridência evidenciada na magnífica produção de Bondy, de 1992 -, compondo uma personagem credível, mas algo inconsistente. A cena d’A Dança dos Sete Véus – cuja coreografia é horrenda… -, e que termina com um nu integral, é deplorável: Salome é sinónimo de decadência, mas não ao ponto a que Malfitano a revela!

Simon Estes segue o trilho da protagonista, impondo-se pela voz. Quanto à figura e interpretação, é difícil imaginar algo pior. Haverá alguma mulher na face da terra que deseje ardentemente um João Baptista orangotango, desprovido de carisma, barrigudo e que esbraceje sem o mínimo de sentido?

Para consolo, restam-nos a Herodias de Rysanek (outrora uma protagonista de antologia) e o Heródes de Hiestermann, ambos magistrais na expressão da decadência, na sua acepção mais ampla: psicológica, moral, física e estética.

Sinopoli, que registou uma das mais sublimes Salome que conheço, propõe-nos, desta feita, uma interessantíssima leitura, eminentemente dramática e catastrófica.


A decadência e sua representação não têm necessariamente de se impor pela via do mau gosto!

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(2/5)

sábado, 1 de novembro de 2008

Prémio Brilhante Weblog

O Com Blogs de Ver atribuiu a este espaço o Brilhante Weblog 2008, que desde já agradeço.

Dando continuidade a semelhante distinção, cabe-me nomear (outros) sete blogs da minha predilecção: La Gazzetta Belcantista, Opera Chic, Paris - Broadway, Parterre, Sounds and Fury, The Rest Is Noise e La Discoteca de HispaOpera.

Prémio Dardos

O singular e incontornável desNORTE distinguiu este blog - entre outros - com o Prémio Dardos.

O que é o prémio Dardos?


"Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.Quem recebe o "Prêmio Dardos" e o aceita deve seguir algumas regras:

1. - Exibir a distinta imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze (15) outros blogs a quem entregar o Prémio Dardos."

Agradecendo a distinção ao HVA e dando continuidade à corrente, eis o meu best of blogs (por ordem alfabética): contemporá/nêas, Da Literatura, De Ópera e Concertos, Digitalis, Esta Noche Barra Libre, Guia de Música Clássica, ionarts, Linha dos Nodos, Mostly Opera, Moura Aveirense, P.Q.P. Bach, Parsifal's, Sieglinde's Diaries, Um Blog s/ Kleist e Valquírio.