segunda-feira, 27 de abril de 2009

(re)Retirada Depressiva ...

... em curso.

Descobri um ponto de encontro virtual dos (muitos, muitos mesmo) que comigo cresceram e se fizeram homens. Os antigos alunos do COLÉGIO MODERNO têm agora um dispositivo na www.

Dei-me conta que desconhecia o paradeiro de grandes amigos e colegas há mais de 20 anos.
10 anos, como dizia o outro, é muito tempo. O que dizer de 20...

Um dia todos nos damos conta que o envelhecimento é uma fatalidade.



Pergunto-me se a crise dos 40 não chegou antecipadamente a estas bandas?

Posto isto, resta-me explicitar a minha total indisponibilidade para demais reflexões, operáticas ou outras. Para cúmulo, na Ler Devagar de Alcântara - espaço que, de tão alternativo, aborrece, malgré tout - optei por duas pérolas da literatura, que ilustram o meu presente momento: L´Étranger e A Condição Humana.



O primeiro é uma releitura, agora no original.


Será preciso dizer mais?


Resta adiantar que o meu segundo e último analista – também meu mestre – via, nestas retiradas, virtudes mil: “Está a dizer-me que cresceu e cada vez menos precisa de mim. Vá à vida”.

Estranho paradoxo... Crescer e envelhecer.

sábado, 18 de abril de 2009

Madrid Me Mata

De 7 a 10 de Maio, com ou sem Borodina ;-)



...já não há retorno possível!

A Valquíria ossia O Crepúsculo dos Deuses


(James Morris, como Wotan, e Irene Theorin, como Brünnhilde - Met, Abril 2009)

Não há duas sem três!

Esta A Valquíria anuncia o ocaso de Morris – Wotan magnífico, há vinte anos -, Meier – Sieglinde de sonho, nos idos anos 1990 – e da datadíssima mise-en-scène de Otto Schenk. Doravante, outra encenação verá a luz do dia, na temporada 2009 / 2010.

«James Morris, a veteran bass with two decades’ experience as Wotan, no longer sings with the tonal control and force he once brought to the part. Especially in the softer passages of Act III his sound was parched.

Yet Mr. Morris’s command of character was absolute, his Wotan an imperious, prideful and ultimately tragic figure. His ability to cut through the orchestra at climactic moments remained intact; elsewhere, you not only overlooked flaws but began to accept them as a part of Mr. Morris’s imposing conception.

Similarly, other singers might have brought more sheer volume to the role of Brünnhilde than the Swedish soprano Irene Theorin did. Making her American debut on relatively short notice as a replacement for Christine Brewer, said to be recovering from an injury, Ms. Theorin sounded somewhat unsettled in her initial appearance during Act II: her sound slightly undersized, her high notes on pitch, but acidic.

Physically, though, Ms. Theorin played the part of a teenage fighter with a limber vitality and a boundless energy not seen in a Met Brünnhilde since Olga Sergeeva took the role in 2004. Ms. Theorin sang with increasing presence and control as the night went on, promising much for the matinee performance on Saturday. Here the uncommon stillness and vulnerability of her singing in the third act made the strongest impression.

As the doomed sibling lovers Siegmund and Sieglinde, Johan Botha and Waltraud Meier made strikingly disparate impressions. Mr. Botha sang with copious power and tonal splendor but lacked physical grace. Ms. Meier compensated for an initially lean, edgy sound with her dramatic intensity and overwhelming passion; her singing, too, steadily grew more compelling. John Tomlinson was a formidable Hunding; Yvonne Naef, an imperious, commanding Fricka.

James Levine summoned tempestuous playing from the orchestra in a fiery, driven performance. At times his gusty pace may have been too much for musicians tasked with a complete “Ring” cycle late in the season: the brass players were bedeviled by problems with pitch and execution.

For the most part, spirited stage action sufficiently compensated for technical shortcomings during this initial farewell to one of the Met’s most popular productions, scheduled to be retired after this season. Not surprisingly, the director, Otto Schenk, architect of this craggy tableau and animator of its inhabitants, received one of the loudest, longest ovations.»


O Conflito



Assisti à minha primeira e única - até à data - Agrippina (Handel) no Theâtre des Champs- Élysées, há cerca de dez anos. As circunstâncias não eram as melhores - a récita precedia um exame terrível (psicopatologia do adulto). As prestações rondaram o bom e o sofrível. A récita não deixou saudades, nem a peça - há que reconhecê-lo.
Link
Dez anos depois deste evento, a questão é de ordem conflitual: assistir à estreia de Agrippina no TNSC ou escutar a leitura de Gardiner, já bem pretérita?

Posto que não sou masoquista, dada a putrefacção reinante no largo de São Carlos...


(cartaz promocional de Agrippina, em cena no Teatro Nacional de São Carlos, à esquerda, e Agrippina, numa interpretação de John Eliot Gardiner - Philips -, à direita)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Visitantes...

Link...já foram mais de 100.000, contabilizados pelos mecanismos da especialidade - sitemeter e widgeo.net.

Sempre imaginei uma festa, por ocasião desta efeméride ;-)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

MENTIRA!!!



Olga Borodina cancelou o recital de amanhã, depois de se ter dado conta da minha ausência!

Tentou demover-me, mas o meu paciente das 19,00h é muito mais importante para mim do que o seu recital. Ver-me-á em Madrid, e, e...

Veremos se a minha agenda me permite assistir ao adiado recital. Desconfio que a indisponibilidade se manterá...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Don Leporello

Neste artigo do The New York Times aflora-se a eternamente misteriosa relação que une amo e servo, ossia Don Giovanni e Leporello. São inúmeros os intérpretes que abordaram, em diferentes fases da carreira, um e outro. Ramey e Terfel estão, para mim, entre os que melhor representaram um e o outro, nas divergências e semelhanças.


(Samuel Ramey como Don Giovanni - à esquerda - e Leporello - à direita)

De entre as teses que versam sobre a relação entre as duas personagens, creio que as mais sólidas e consistentes são as que sublinham a complementaridade: um será, pois, o alter-Ego do outro. Um negativo, outro positivo.

Eis o que nos diz Peter Sellers, a respeito da relação Don Giovanni - Leporello:

«Nearly 30 years ago Peter Sellars cast Eugene Perry as Giovanni and Herbert Perry, Eugene’s identical twin, as Leporello, but with quite different intentions. “What was great was that we didn’t have to ask if the other characters are mentally impaired,” Mr. Sellars said recently. “The mistaking of Giovanni and Leporello became real and understandable.”

Theatrically the disguises give the players brilliant opportunities. But Mr. Sellars sees a much deeper purpose in Leporello’s brief taste of the glamorous life when he steps out with Elvira.


“Left to his own devices and given the means,” he said, “Leporello might go Giovanni’s path. But the better you get to know the people you serve, the more you don’t want to be like them. Being the object of Elvira’s love is a tremendous test for his emotions. She’s asking for real love, which Giovanni spends his life running from.

“In the end the transformation of Leporello is what the opera is about. Giovanni is static. He never learns a thing. Leporello goes through the whole range of emotions Giovanni is cut off from. He’s a feeling, thinking person.”
»


Não me pergunte o prezado leitor sobre a minha preferência... pois um nada é sem o outro!

Quanto a intérpretes, Siepi é o Don absoluto, logo seguido de Hampson; já no tocante a Leporello, opto por Taddei, Terfel e Pape.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Borodina: la vendetta


(Olga Borodina)

Há sensivelmente dez anos, na Bastilha, assisti à desastrosa estreia de Olga Borodina na Carmen. Que logro...

Na temporada seguinte, no Théâtre des Champs-Élysées, assisti a um recital consagrado à canção russa. Notável. Nos encores, Borodina foi de uma imensa generosidade: as duas árias de Dalila... Divina, divina!


Não sei se os felizardos que assistirem ao recital do grande mezzo russo, na Gulbenkian, esta quinta-feira, terão a mesma sorte que tive. A verdade é que, por dever de ofício, estarei ausente. O setting psicanalítico é rigorosíssimo: desmarcar as sessões, só em último recurso.

Mas, parvo era eu se não me vingasse! Pois bem, por cento e poucos euros, a acrescer aos bilhetes do Real... La Damnation de Faust, no dito Teatro Real, com La Borodina!!!


ps no reportório verdiano e mezzo mais pesado, Borodina não tem concorrência, desde há mais de dez anos.

Alcina (Handel)

(Archiv 477 7374 )

Da Alcina de Handel (dirigida por Curtis e interpretada pela magnífica Didonato, no papel titular) diz-se o seguinte:

«Joyce DiDonato takes the title role. Nothing about Alcina is quite what it seems, and here we have a mezzo singing a soprano's music with considerable finesse, but with occasional moments of telltale strain. This is also a performance of immense calculation, so that while we're aware of Alcina's allure, we're also continually questioning her emotional veracity. Maite Beaumont's Ruggiero is a bit lightweight, though she makes a perfect foil for Sonia Prina's aggressive Bradamante. Karina Gauvin is to die for as Morgana, and Kobie van Rensburg is the best of all Orontes.»

Logo de início, confesso a minha perplexidade: uma mezzo a interpretar um papel habitualmente confiado a um soprano??? Não é caso raro, como bem se sabe...

Posto isto, pergunto-me se esta Alcina fará sombra à soberba de há dez anos - a que assisti live, em Paris, no Palais Garnier -, interpretada por Fleming e Dessay e dirigida por Christie?! Renée Fleming e Natalie Dessay estão absolutamente irrepreensíveis! Ah! E como esquecer a prestação da irresistível Susan Graham?!

domingo, 12 de abril de 2009

La Delusione *

La Bohème (Puccini) constitui uma das mais populares e representadas peças líricas de sempre. Com inúmeras interpretações registadas – Beecham (EMI) e Von Karajan (DECCA), apenas para citar duas das mais aclamadas -, em finais da década de 1990, La Bohème voltou a inspirar maestros, intérpretes e majors.

Pappano (EMI), apoiando-se numa dupla feminina de sonho – Vaduva e Swenson -, em Hampson e no ascendente Alagna, ofereceu-me uma das mais tocantes leituras da peça.

Em resposta ao êxito de Pappano, dois anos depois (1998), é a vez de Chailly (via DECCA) reunir o casal maravilha da última década do século: o reincidente Alagna e sua consorte, Angela Gheorghiu.

(La Bohème, direcção de Riccardo Chailly - DECCA)

A interpretação de Chailly fez correr tinta e mais tinta, arrebatou prémios e distinções (Diapason d’Or, Gramophone, Pinguin Guide, etc.). Et alors!?

INJUSTIFICADAMENTE, digo eu!

Apesar da majestosa direcção de Chailly e da linhagem dos intérpretes vocais, esta La Bohème é uma rotunda decepção.

É certo que o quarteto vocal prometia, mas… Alagna fixa-se na banalidade e superficialidade – um Rodolfo sem graça, nem charme, obcecado com o arrebatamento, despropositado -, Keenlyside (Marcello) mal sai do anonimato – teatralmente é nulo -, Elisabetta Scano propõe uma Musetta desastrosa, de voz pequenina e maioritariamente apoiada na agilidade – Moffo e Swenson, por exemplo, mostram-nos que a coloratura apenas anuncia a personagem, sendo o essencial veiculado pela ousadia e histrionismo – e… E Gheorghiu ?

Gheorghiu constitui a excepção, neste panorama decepcionante. Uma vez mais, a romena revela mestria, particularmente na interpretação de Puccini – uma Magda de sonho, uma Tosca interessantíssima, uma Butterfly aclamada e uma soberba Mimi.

Rica em subtilezas, a sua Mimi revela uma inequívoca progressão dramática – charmosa e cativante (acto I), graciosa (acto II), destroçada e sofrida doravante, até que a tísica a consuma. A sua leitura da personagem – sem sombra de dúvidas, a mais animada, prolixa e vitalizada -, apoiada numa voz segura e impregnada de drama, constitui o único argumento verdadeiramente favorável à aquisição deste dispensável artigo.
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(3/5)


* A Decepção

sábado, 11 de abril de 2009

Don Giovanni...

Na edição d’O Expresso de 10 de Abril – na Revista, para ser mais exacto -, surpresa das surpresas: eis que Jorge Palma revela ser Don Giovanni o maior alvo da sua inveja criativa. Palma confessa que o seu maior dissabor é não ter composto A ópera.

Foi preciso esperar pelos 38 anos para descobrir uma afinidade com Jorge Palma.
E que afinidade…

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Meu Blog

Eu gosto muito, muito do meu blog! Por que não dizê-lo?!

Ópera vs Demais Interesses

Escreve uma pessoa sobre ópera – vide crítica da Salome (TNSC) -... 34 comentários, so far...
Psicanaliticamente, discorre-se sobre algo... 0 comments!

Disoluto, Dissoluto, interpreta, interpreta que é esse o teu labor! Tira as tuas conclusões!

Da Perversão menor e MAIOR no cinema

Certo público – educado, exigente e instruído - e determinada crítica – ousada e vanguardista - idolatram filmes que, sob a cosmética de valores tão abjectos como a compaixão, sacrifício, abnegação e quejandos, ocultam e propagam a dinâmica perversa.

De cor, recordo Breaking the Waves (Lars Von Trier, 1996). Esta exaltação à perversão assenta numa trama horrenda: Bess e Jan, um jovem casal, abruptamente encontram-se privados de manter um relacionamento sexual, dado que Jan – o marido – fica tetraplégico, na sequência de um acidente. Doravante, Bess é incitada pelo marido a manter vida sexual com outros homens, obrigando-se a relatar os detalhes das suas aventuras ao próprio marido. Pior ainda: a dócil e inocente rapariga crê, por via da sua conduta, contribuir para a recuperação do amado marido, irreversivelmente castrado.

Quanto amor, quanta paixão! Tamanha abnegação e espírito de sacrifício...


Tal não será o caso de Leaving Las Vegas (Mike Figgis, 1995), filme medíocre e oubliable, apenas merecedor da nossa atenção pelo notável desempenho de Nicolas Cage.

Neste filme, o alcoólico, deprimido e auto-destrutivo Ben envolve-se com Sera, uma puta, altamente perversa, totalmente escravizada pelo sado-masoquismo.

Sem entrar em detalhes, à vol d’oiseau, diga-se que Sera, "disposta a auxiliar" Ben, acolhe-o em casa, comprometendo-se a não interferir no processo autodestrutivo de Ben. De permeio, oferece-lhe uns miminhos – uma garrafa requintada de viagem... – e borrifa-se com whiskie, a fim de suscitar o desejo do farrapo Ben. No final da trama, lá consegue que o pobre homem, moribundo, jazendo no leito da morte, a fornique.

Já não se fazem amores destes, eloquentes e sublimes?!


Perverso por perverso... venha o Grande Bunuel, que retrata a perversão de modo sublime, cirúrgico e sem moralismos de espécie alguma – vide Tristana, Esse obscuro objecto do desejo e Belle de Jour.



(Tristana)


(Esse obscuro objecto do desejo)


(Belle de Jour)

Presenting Caballé, ossia 1/12


(Presenting Caballé, in The Original Jacket Collection)

Adquiri este registo em Paris, há cerca de 10 anos, por uma quantia insignificante. À época – como agora, aliás... – a distribuição da RCA no mercado luso era uma miragem.

O mesmo registo corresponde ao artigo de abertura desta colectânea. Datando de 1965, constitui uma das primeiras gravações de La Caballé. De facto, fora nesse mesmo ano que a grande intérprete se afirmara, ao substituir, à última da hora, uma Marilyn Horne souffrante, na pele de Lucrezia Borgia (Donizetti), no Carnegie Hall.

O registo revela uma intérprete em fulgurante ascensão, com um timbre de ouro, aveludado e dócil, e uma técnica majestosa – volume qb e agilidade (os pianissimi, meu Deus...) -, embora com algumas arestas a limar – vibrato um tudo nada rebelde e discreta insegurança. Teatralmente, há uma certa indiferença, sabendo tudo ao mesmo. À intérprete falta-lhe, ainda, a endurance do palco.

Daí em diante, foi o que se sabe: a glória nos 1970´s

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(4/5)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Salome, Teatro Nacional de São Carlos, récita de 5 de Abril de 2009


(O Clímax, ilustração de Salomé, Oscar Wilde, 1893)

Injustamente (?!), do meu ponto
de vista, a Salome do São Carlos tem sido alvo de criticas absolutamente destrutivas. Preparei-me para o escabroso; serviram-me um prato cheio de mediania, a tender para a mediocridade. Podia ser pior...

A encenação desta Salome teria feito furor se acaso tivesse a assinatura de um dos enfant terrible da mise-en-scène operática - Peter Sellars ou Claus Guth, por exemplo.

Se tal fosse o caso – estou certo – a fina flor da capital ter-se-ia vergado. Mas como a encenadora é novata, por bandas lusas...

Karoline Gruber, a encenadora, limita-se a transpor a atmosfera de luxúria e decadência para a actualidade. Junta-lhe uns pós de perversão e suburbanismo e pronto. O clima é animado por uma arquitectura tipicamente massificada e de mau-gosto, impregnado de um espírito periférico e suburbano (o prédio do cenário). Há álcool e drogas a rodos e uma panóplia de perversos – putas, transexuais e pedófilos.

A coisa tolera-se até à dança dos sete véus. Aí, a mais aberta das mentes explode!

Qual dança, qual carapuça! Dobrar a intérprete com recurso a uma bailarina? Nem por sombras! Gruber resolve o problema recorrendo à imbecilidade: Salomé e o padrasto envolvem-se num jogo perverso, seduzindo-se estupidamente, enquanto Herodíada – uma espécie de Amy Winehouse – trata da roupa...

Consta que Karoline Gruber recorreu à psicanálise para conceber este trabalho. Não dei por nada... E logo eu, que tenho formação psicanalítica! O que a senhora fez – repito – foi actualizar o clima em que a trama decorre.
Neste capítulo, não a apedrejo.

Wilde e Strauss concebem um universo claramente perverso, no sentido mais amplo da palavra. A protagonista é uma mulher perversa, no sentido psicopatológico do termo: a sua sexualidade é regida pelo desvio. A mãe é igualmente perversa, o padrasto um pederasta...
So what, senhora Gruber?!

Não é necessário explicar o óbvio! A perversão e toxicomania não se dão por geração espontânea – como aliás a grande maioria das perturbações mentais, na óptica da psicanálise. A protagonista nada mais faz que perpetuar, transgeracionalmente, um ambiente marcado pela marginalidade (também sexual), ambiente esse onde se presume ter sido gerada e educada.


No plano musical, deparei com uma OSP coesa, globalmente bem dirigida, mau grado as prestações das madeiras – tendencialmente desafinadas – e percussão – sempre em fortissimo, tudo abafando e esmagando.

Quanto aos intérpretes, o que dizer...

D’abord, Nancy Gustafson – ossia Salomé -mal se ouve.
Quando se consegue escutar (muito raramente), a intérprete revela afinação e domínio técnico. Cenicamente não se perde. Mas... NÃO HÁ SALOME SEM VOLUME!

Não é por capricho que se escolhem sopranos dramáticos para o papel de Salomé! É por necessidade imperiosa e incontornável! A orquestra maciça e densa esmaga vozes de volume reduzido e mediano, pelo que...

Jason Howard – o João Baptista – apresenta uma voz igualmente pequena, embora mais encorpada e seguramente melhor projectada. A mímica é fracota, mas enfim.

A Herodíada de Araya é deplorável, com uma voz horrenda, de timbre agreste e estridente. Carlos Guilherme – perdoem-me os fãs – tem uma figura algo ridícula, que combina na perfeição com Herodes, o sumo representante da decadência. Por mérito do intérprete ou constituição da criatura, a interpretação do tetrarca da Judeia destaca-se, contando com um plus: o timbre, que conserva uma indesmentível beleza e originalidade.

Quanto ao resto... é da ordem do banal e olvidável.

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(2,5/5)


Nota 1 Bom, bom foi ter adquirido bilhetes de última hora, a €20! Tivesse eu embarcado na onda da assinatura e esta crítica transpiraria fel e ódio.

Nota 2 Nunca, por nunca vi tantas crianças de tenra idade no TNSC – nem na última medíocre A Flauta Mágica (temporada de 2001 / 2002). Qualquer leigo, minimamente conhecedor da peça de Wilde – ou mesmo do episódio bíblico de Salomé – adivinha que o conteúdo da ópera – para não falar da encenação – é totalmente desaconselhado e desadequado ao público infantil!!! Pois – pasme-se – vi e ouvi crianças, em permanência, pelo chão, brincando, gralhando... Mais não digo, por pudor.

sábado, 4 de abril de 2009

Tutta la prima Caballé!



A ascensão da grande catalã – ao longo da década de 1960 -, discograficamente, deu-se na RCA, que agora reedita alguns dos maiores tesouros da imensa cantora, a um preço escandalosamente acessível (€39,99, mais coisa, menos coisa): 15 cds, alguns ortodoxos e absolutamente indispensáveis – Norma, Bellini, Donizetti, Verdi e Salome -, outros mais heterodoxos – Zarzuelas, Granados e lieder de Strauss.

Que mais se pode pedir?

Pela parte que me toca, só preciso de (mais) tempo para a fruição da caixa!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Christoph Dammann

Christoph Dammann foi, até à data, o mais distinto director artístico do Teatro Nacional de São Carlos.
O resto são lérias!