domingo, 21 de junho de 2009

La Traviata - Royal Opera House


(Joseph Calleja e Renée Fleming, como Alfredo e Violetta, respectivamente - La Traviata, Royal Opera House Covent Garden, Junho de 2009)

Renée Fleming, senhora da mais bela voz de soprano lírico dos últimos vinte anos (desde o ocaso de Cheryl Studer, para ser mais exacto) nunca me impressionou como Violetta Valéry, ossia La Traviata.

Vi-a no Met, há uns bons seis anos, neste tremendo papel. Tudo seria perfeito, não fora a falta de anima...

A suburbana mise-en-scène de Marta Domingo, concebida para Fleming, estreada na ópera de Los Angeles, veio sublinhar as minhas dúvidas, quanto às fragilidades de Fleming.

A dita encenação é medíocre. Os colegas de Fleming são o ultra-decadente Bruson (cujo vibrato dá dó...) e o Alfredo atontalhado de Villázon.



Consta que a maturidade dos cinquenta em muito enobreceu a interpretação de A Transviada, d'après Renée Fleming. Uma vez mais, cada cabeça, sua sentença, como segue:

«The latest and most mature to do so is the American superstar Renee Fleming and what she has that singers like Gheorghiu and Netrebko before her did not is a wealth of experience and stylistic know how. Alright, so the words are too often sacrificed to the sound and the sound, borne as it is on extraordinary and effortless breath control, is, one could argue, so glamorous as to seem self-regarding. But what a sound it is and how – in true bel canto fashion – it shapes and defines the emotion. The little hairpin dynamics, the wistful portamenti, the way in her climactic act one aria she takes time to savour the “mysterious”, “exalted” tone of the music culminating in a real (and properly ecstatic) trill. Her chest register has more attitude now, too, and there is rage in her demise, the words “It’s too late” rasping with defiance.

Experience and authority fleshed out act two more than one can say with even the young head on old shoulders of Joseph Calleja displaying fabulous maturity. What a distinctive quality this warm and engaging voice has, the flutter of rapid vibrato lending a wonderfully inviting quality to his ample middle range. Then the gaunt and commanding father figure of Thomas Hampson (Giorgio Germont) whose confrontation with Violetta achieved an agonising intensity. Fleming’s numbing pianopianissimo as she agreed to leave Alfredo for the sake of his sister was quite simply great dramatic singing – and how it heightened the impact of the great release “Amami, Alfredo” minutes later.

None of this would have been possible without Pappano’s extraordinary instincts: the sheer range of colour he coaxed from his orchestra in the accompagnamenti, from airy light to robustly sprung, was in itself a source of great insight. The fifth star is his, because this is quality as befits a major international house.»



«In her most recent appearances at Covent Garden, Renée Fleming sailed effortlessly through the ripe romanticism of Rusalka and Thaïs, producing some of the most exquisitely beautiful singing I have ever heard in an opera house.

But La traviata is something she finds tougher, as anyone would – it's often been said that Verdi had a different vocal type in mind for each of the three acts, and the emotional variety packed into the role of Violetta isn't easy to unravel.

In the party fizz of the first scene, Fleming certainly sounded uncomfortable and underpowered: she was outsung by her Alfredo in both duets, and the coloratura of "Sempre libera" put her under pressure, not helped by a conductor, Antonio Pappano, with whose tempi she clearly disagreed.

But the duet with Germont in the second scene was sublimely phrased and sensitively dramatised – there was far more musical and emotional nuance in her interpretation than in Anna Netrebko's, wildly acclaimed here last year – and the great statements of "Donna son io, signore" and the farewell to Alfredo (during which she poured camellias like blessings over his head) were delivered with blazing passion and authority.

At Flora's soirée, Fleming spun "Alfredo, Alfredo" on golden thread before collapsing in an alarmingly authentic stage faint. In her final hour, the voice became whiter, as though life was being bleached out of it, with the last ascending phrases of "Addio del passato" like agonising twists of breathless pain. What other soprano today can match such superlative craft?

This Violetta doesn't suggest the petite poule de la campagne Marie Duplessis of Dumas' original: Fleming plays her more like Scarlett O'Hara, a spirited Southern belle, and why not? But ultimately I missed the noble soul and tender vulnerability that my most beloved Violetta, Ileana Cotrubas, embodied so unforgettably.

Joseph Calleja was the most endearing of Alfredos, singing with fresh, forthright, vibrant tone, and as Germont Thomas Hampson gave a masterly account of that dreary old aria "Di Provenza il mar".

All the supporting roles were sharply characterised, evidence that Richard Eyre had returned in person to refresh his durable 1994 staging, which still looks splendid in Bob Crowley's sumptuous designs. And his differences with the diva aside, Pappano conducted with a warmth and vitality which made for a happy orchestra. A richly rewarding evening.»

15 comentários:

Anónimo disse...

Essa representação da Traviata circula em dvd e, ao contrário do amigo Dissoluto, gostei muito da encenação "realista" da Marta Domingo desafecta de quaisquer simbologias. Um oásis comparada com a pavorosa encenação do par Netbreko/Villazon e certamente mais convencional do que a da Ciofi. Na versão que circula, que pode não ser a récita a que o João assistiu, gosto de todas as interpretações e dou os parabéns ao Bruson por cantar tão verdianamente já na casa dos setenta. Concordo que o Villazon está um pouco tonto, mas a voz está lá toda. A Fleming, num registo lírico-ligeiro, não é tão prima-dona como a Gruberova no dvd do La Fenice (a minha preferida no registo video), mas faz uma boa Violeta.
Raul

Anónimo disse...

Adenda et Corrigenda:

Na excelente crítica citada pelo João vem " it's often been said that Verdi had a different vocal type in mind for each of the three acts." Quem o disse foi Toscanini que achava que no primeiro acto a voz devia ser a de um soprano ligeiro, a do segundo um soprano lírico e a do terceiro um soprano dramático. Com esta conclusão é facil perceber por que a Callas é a maior Violeta e cantoras como a Tebaldi e a Los Angeles, no passado, foram muito boas intérpretes no segundo acto.

Devia escrever Anna Netrebko e não o que escrevi no comentário anterior.
Raul

J. Ildefonso. disse...

Pois o Villazon, infelizmente, porque eu até gosto dele, parece um tonto em todos os dvd's que conheço. É um problema de mímica. Sei que ele estudou para palhaço e infelizmente em palco muitas vezes faz lembrar exactamente isso, um pato Donald apalhaçado, o que dá uma dimensão completamente diferente aos personagens que se tornam uma especie de adolescentes retardados.

Hugo Santos disse...

Quando comecei por ouvir o Villazón, sempre me pareceu que puxava demasiado pela voz. Havia ali um esforço que me fazia temer pelo pior. No entanto, como o timbre era tão agradável (lembrando amiúde o de Domingo) e as faculdades vocais aparentavam estavam lá todas, julguei que fosse uma característica intrínseca da voz ou apenas o tipo de técnica empregue. Pelos vistos, equivoquei-me. O senhor foi-se descontrolando, cada vez mais, em palco, exagerando na histrionia. Em termos vocais, a passagem encontra-se num caos, acusando um défice gritante de suporte.

Hugo Santos disse...

Caro Raul,

é como afirma. O Bruson, mesmo no actual estado vocal (que não era assim tão flagrante numa outra Traviata em DVD de 2002 com a Stefania Bonfadelli, dirigida pelo Placido Domingo), continua a oferecer verdadeiras lições em canto verdiano. Quando acompanho o seu Germont no registo em discussão, fica-se sobretudo a noção do fraseado e da linha vocal, pese embora as dificuldades colocadas pela idade do intérprete.

blogger disse...

realmente é verdade, a fleming parece sempre incrivelmente aborrecida enquanto canta a traviata. não me cativa nada, o que é uma pena porque possui uma voz tão nobre e aristocrática que poderia conceder algo de novo a esta personagem. o villazon (Hugo,palhaço? isso explica muita coisa!) é um tonto. sempre achei. não gostei da traviata dele com a netrebko como muitos gostaram. confesso que achei interessante o romeu et juliette de gounod que uma vez vi. a encenação da traviata da fleming/villazon que o joão mencionou é realmente muito convencional e desinteressante mas quanto a esta da ROH acho deslumbrante e muito boa. aprecio bastante a segunda cena do acto 2. no que ao Bruson toca, concordo com o Raul e com o Hugo.

Hugo Santos disse...

Caro blogger,

a questão do "palhaço" foi levantado pelo João Ildefonso.

blogger disse...

ah! confusão minha! desculpe-me J. Ildefonso. e obrigado, Hugo, pelo reparo!

Anónimo disse...

Mas, caro Blogger, já viu esta encenação do Royal Opera House ?
Raul

blogger disse...

pelo que percebi, pensei ser a mesma da gravação da gheorghiu de 1994, estou errado?

Il Dissoluto Punito disse...

Está certíssimo! É uma reprise ;-)

J. Ildefonso. disse...

Estive a ouvir agora a leitura da carta no youtube e é absolutamente horrivel! Parece uma parodia.

Anónimo disse...

Foi aqui que ouvi o trecho. Acham que é uma brincadeira?





http://parterre.com/2009/06/24/renee-has-read-the-letter-over-many-times/#more-4212

blogger disse...

parece um animal a morrer lol

Anónimo disse...

Sim realmente parece um animal em agonia!